Mercado

Bitcoins acumulam expressiva valorização no mercado

Desde o ano passado, o bitcoin se destaca no cenário financeiro internacional pela extrema valorização do ativo digital. Os números impressionam. Nos últimos 12 meses, a moeda virtual registrou crescimento de mais de 130%, e saltou de US$ 28 mil para US$ 67 mil durante esse percurso. Para efeito de comparação, nesse mesmo período, os principais índices de renda variável tiveram um avanço bem menor: o índice de BDRs (Brazilian Depositary Receipts) subiu 34,64%, enquanto o índice de Dividendos e o Ibovespa avançaram 27,2% e 25,74%, respectivamente.

Somente no primeiro trimestre de 2024, o bitcoin acumulou uma impressionante valorização de 72,20%, e foi, de longe, o ativo financeiro que registrou o maior aumento de valor durante o período. Nesta última sexta-feira (5/4), a criptomoeda apresentou uma leve queda de 1%, e está avaliada em US$ 67,8 mil, ou R$ 343,8 mil, na cotação atual.

Diante desse cenário, investidores mais conservadores começam a enxergar no bitcoin uma opção de investimento mais rentável, apesar de não haver nenhuma garantia de valorização. Especialistas ouvidos pelo Correio acreditam que o ciclo de valorização da criptomoeda mais famosa do mundo ainda não se encerrou e que é necessário ficar atento a eventos deste ano que podem agregar ainda mais valor ao ativo.

O principal evento mencionado pelos analistas é o chamado “halving”. Para explicar o termo, é preciso entender que o bitcoin é obtido, principalmente, por meio de um processo de “mineração”, que significa a criação e emissão de novos ativos digitais por meio da atualização das carteiras digitais da moeda após cada nova transação realizada.

Com o efeito do halving — que vem do inglês “half”, que significa “metade”—, a oferta de bitcoin no processo de mineração é reduzida ao meio, além do direito de comercialização, que cai de 12,5 btc para 6,25 btc. Diante disso, a tendência é que a demanda pela moeda aumente e, por consequência, o valor fique ainda mais alto, como explica o economista e sócio da Bluemetrix Asset, Renan Silva.

“Isso faz parte do código da moeda. E isso acontece de quatro em quatro anos, o que realmente limita a oferta da moeda e, consequentemente, aumenta a pressão sobre o preço. Então, todo mundo busca esse resultado, essa pressão sobre o preço, por conta dessa menor oferta”, analisa o economista. O halving começa neste mês de abril. O último evento dessa natureza ocorreu no mesmo mês, em 2020.

Outro indicador que reforça o discurso que prevê uma continuidade da valorização do bitcoin é a tendência observada em halvings anteriores, quando sempre houve um aumento do valor da moeda digital. Essa é a visão da economista Raquel Vieira, fundadora da WeTrade, que também observou uma mudança nesse movimento em 2024, na comparação com os eventos passados.

“Historicamente, quando a gente pega os halvings anteriores, a gente consegue ver que o bitcoin nesses períodos sempre valorizou. E, desta vez, o ativo até se antecipou ao halving, que ainda não aconteceu, está para acontecer ainda, e mesmo assim ele já bateu a alta histórica de antes. Então isso é algo muito positivo, que pode fazer a criptomoeda estar diante de um dos maiores ciclos de mercado que a gente está tendo”, avalia Vieira.

Apesar da expectativa ser mais favorável a uma valorização, o professor de Economia da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Luciano Nakabashi, pondera que o halving já é esperado pelo mercado e pode não causar tanto aumento de valor quanto poderia ser imaginado. Além disso, ele ressalta o risco elevado em se investir nesse tipo de ativo, que não possui lastro como as moedas convencionais, o que diminui a segurança do patrimônio.

“Mesmo as moedas nacionais, como o real, possuem a obrigatoriedade, por força de lei, para que sejam aceitas como meio de pagamento, o que não ocorre com o bitcoin. No cenário atual de aumento do preço do bitcoin, as regulamentações aprovadas pelas autoridades norte-americanas ajudam a entender esse movimento de alta. Mas isso é somente parte desse aumento da confiança dos agentes econômicos (pessoas físicas e jurídicas) no bitcoin”, ressalta o professor.

Assim como explica Nakabashi, o valor do bitcoin depende quase que inteiramente do nível de confiança do mercado na moeda. Caso haja uma quebra nesse otimismo, a moeda pode oscilar gravemente para baixo, pelo fato de ser muito volátil e sensível às ações do mercado financeiro. Outros fatores, além do halving, ainda são preponderantes para esse cenário positivo.

Em janeiro deste ano, começaram a operar nas bolsas dos Estados Unidos os ETFs de bitcoin. Do termo em inglês “exchange-traded fund” (ou fundos de investimento, em português), os ETFs são fundos negociados na Bolsa de Valores que funcionam como se fossem uma ação. Com a rápida aprovação do mercado financeiro, esses fundos tiveram uma intensa valorização nos índices norte-americanos.

Um exemplo de sucesso nos Estados Unidos foi o dos ETFs de bitcoin da BlackRock — empresa de gestão de investimentos do país. Em apenas dois meses em operação, o índice que mede a confiança e valorização dos fundos em bitcoin dessa empresa alcançou a marca de US$ 10 bilhões. A nível de comparação, o primeiro ETF de ouro demorou dois anos para alcançar o mesmo nível.

“Isso gerou uma grande credibilidade e uma megavalorização (da criptomoeda) no curto prazo. Acontece que muitos institucionais ficaram de olho, grandes investidores, e por isso, o bitcoin ficou ganhando uma grande credibilidade”, aponta a economista Raquel Vieira, que também acredita que uma queda nos juros nos EUA pode dar espaço para uma valorização ainda maior da cripto.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou o lançamento de um contrato futuro de bitcoin na Bolsa de Valores de São Paulo, que utilizará o índice Nasdaq Bitcoin Reference Price como referência e terá um valor equivalente a 0,1 bitcoin, ou 10% do valor da criptomoeda em reais, com vencimento mensal. A B3 anunciou, no último dia 28 de março, que pretende lançar o novo produto no mercado no dia 17 deste mês.

“Esse lançamento atende uma demanda por um produto derivativo que permite a proteção da oscilação de preços do bitcoin ou a exposição direcional ao ativo, mantendo a segurança de operar no ambiente da Bolsa do Brasil”, destacou, em nota, o superintendente de Produtos de Juros e Moedas da B3, Felipe Gonçalves.

Segundo a operadora da Bolsa brasileira, o funcionamento desse novo contrato futuro será parecido com os que já existem no mercado. Ele permitirá que os investidores negociem a variação do preço do bitcoin em um ambiente regulado e com liquidez diária. Não haverá compra ou venda de bitcoins nesse sistema, e os resultados financeiros terão como base a variação de preço da criptomoeda.

Somente no primeiro trimestre de 2024, o bitcoin acumulou uma impressionante valorização de 72,20%

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