Nova política industrial do governo não tem impacto fiscal, diz diretor do BNDES
O diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES, José Gordon, afirma que a reação negativa do mercado financeiro ao programa de incentivo à indústria aconteceu porque os investidores não analisaram com calma as medidas propostas. Ele diz que o programa não terá custos extras ao Tesouro Nacional.
O objetivo do banco é elevar os desembolsos, hoje em torno de 1% do PIB, para a média histórica, de 2% do PIB, apenas em 2026, o que ainda seria a metade do que ocorreu no governo Dilma Rousseff.
Na segunda-feira, enquanto o governo anunciava o programa em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o dólar teve uma forte valorização, de 1,18% e, quando o índice Ibovespa recuou 0,81%.
Ontem, porém, a moeda americana recuou 0,7% e a Bolsa voltou a se valorizar, fechando com alta de 1,27% e atingindo patamar maior do antes da queda.
— A reação do mercado (na segunda-feira) foi além do esperado. Acredito que eles viram o programa, mas não analisaram com calma. Não tem impacto fiscal, tudo já estava pactuado dentro do governo. A política do ministro Fernando Haddad não será afetada — disse o diretor.
Gordon afirma que umas das principais diferenças em relação à política petista anterior — criticada por especialistas — é que não haverá transferências de recursos do Tesouro para o BNDES com linhas subsidiadas.
Segundo ele, a principal fonte de financiamento é o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e os juros dos empréstimos seguem a TLP, que seguem as oscilações de mercado.
— Fizemos um esforço para diminuir custos e reduzir o spread. Há uma linha com crédito subsidiado, de R$ 40 bilhões, mas com foco em ciência e inovação, mas que já havia sido aprovada pelo Congresso, não foi a novidade do anúncio — explicou.
Compra de empresas
Ele diz que os R$ 8 bilhões destinados a equity, ou seja, sociedade em empresas, serão divididos em dois grupos: R$ 4 bilhões para agenda verde, e R$ 4 bilhões para inovação.
O diretor do BNDES explica que não haverá compra de ações de grandes empresas com papéis em Bolsa, como aconteceu, por exemplo, com a compra de uma fatia do grupo JBS, nos governos Lula e Dilma, mas a criação de fundos de investimentos, com a participação de agentes privados, para compras participação em startups e pequenas empresas.
— O chamado equity são fundos que vamos investir com o mercado privado, para estimular pequenas empresas e startups, não vamos investir em ações da empresa. Minerais críticos será o primeiro, ligado à transição energética, com expectativa de a operação acontecer no primeiro semestre. Esse fundo vai investir em várias empresas, será pulverizado. É totalmente diferente do que foi feito no passado — explica.
Dos R$ 300 bilhões anunciados pelo programa, R$ 163 bilhões, ou 64% do total, terá como foco as exportações de produtos. A fonte de financiamento serão recursos do FAT e captações do próprio BNDES.
Outros R$ 54 bilhões, ou 19,4%, terão subsídios financeiros do BNDES, para inovação, digitalização e descarbonização, com uso de recursos de fundos como FAT, Fust, Funtetel e Fundo Clima. Mais R$ 20 bilhões terão recursos da Finep, também com foco em inovação, voltados a ciência e tecnologia.
Da Finep também sairão R$ 20 bilhões em recursos não reembolsáveis, com foco em inovação, e mais R$ 1 bilhão do BNDES com o mesmo fim. já os R$ 8 bilhões para empresas terá como fonte recursos do próprio banco além de dinheiro de investidores privados.