Maior banco de investimentos do Brasil, BTG diversifica ativos e amplia atuação internacional
Um hotel de luxo em Cascais, Portugal. Um banco em Nova York. E até mesmo um bairro planejado, o Ilha Pura, na Barra da Tijuca, no Rio, com 31 torres residenciais. Todos esses ativos em diferentes partes do mundo e em segmentos diversos têm um denominador comum: foram comprados pelo banco BTG ou por seus fundos de investimentos neste ano, num volume de negócios que vem chamando a atenção nos últimos meses.
Por trás dessas transações, a estratégia do maior banco de investimento do país, que no ano passado registrou lucro de R$ 10,4 bilhões, é expandir-se na Europa e nos EUA, além do mercado doméstico, atendendo brasileiros de alta renda no exterior, mas também latinos que buscam desde gestão de fortunas a produtos alternativos de investimento e crédito para pessoas físicas e jurídicas.
— Começamos a desbravar a Europa em 2020, quando detectamos um fluxo de brasileiros indo morar em Portugal. E percebemos espaço para uma oferta de serviços e produtos que os grandes bancos multinacionais não fazem. Saímos do zero e atualmente são 5 bilhões de euros sob gestão — conta Rogério Pessoa, sócio e chefe global de Wealth Management do BTG Pactual.
Além de brasileiros e latinos, europeus também começaram a procurar o BTG na Europa. Clientes da Espanha, por exemplo, segundo maior país investidor no Brasil, têm mostrado interesse em trabalhar com o BTG, lembra Pessoa. Hoje, além do escritório de Lisboa, há unidades em Madri e Londres.
Oferta de produtos
A compra do banco FIS Privatbank, em Luxemburgo, por 21,3 milhões de euros (R$ 125,8 milhões), no ano passado, deu nova musculatura ao BTG na Europa. A instituição está funcionando como um “hub” de serviços e produtos para os clientes na Europa.
— Eram cerca de 30 pessoas no FIS e hoje já são 80. Estamos trazendo nossa cultura e DNA para cá — diz Ricardo Borgeth, sócio e chefe de Wealth Management do BTG na Europa.
Borgeth lembra que o banco está ampliando sua oferta de produtos de investimentos alternativos na Europa e comprou, em abril passado, através de um dos três fundos imobiliários que já tem no continente, o hotel cinco estrelas The Oitavos, numa zona nobre de Cascais, Portugal.
O negócio gira em torno de 160 milhões de euros (R$ 945,6 milhões) entre a aquisição e o chamado retrofit (reforma). Com o BTG, esses imóveis terão gestão renovada e se destinam a clientes de private equity, family offices e sócios do BTG.
A compra do The Oitavos se soma a outros negócios imobiliários que o BTG tem em Portugal. O banco adquiriu o hotel Eden Estoril, em 2022, num investimento de 120 milhões de euros (R$ 709,2 milhões) para remodelar o imóvel, sempre contando com parceiros locais.
E em parceria com Renato Rique, presidente do Conselho da Allos, operadora de shoppings no Rio de Janeiro, o BTG também comprou shoppings no país.
O banco tornou-se um investidor importante do setor imobiliário em solo português, com mais de 300 milhões de euros (R$ 1,7 bilhão) já aplicados, mas está de olho em novos ativos do setor, inclusive na Espanha, e espera chegar a 1 bilhão de euros ( R$ 5,9 bilhões) em imóveis nos próximos três anos.
Banco nos EUA
— O BTG vem fazendo uma diversificação na oferta de serviços e produtos para o mercado internacional. Está deixando de ser um banco apenas brasileiro — analisa Alexandre Pierantoni, diretor de finanças corporativas da Kroll no Brasil e especialista em fusões e aquisições.
Ao comprar o banco MY Safra, nos Estados Unidos, em junho passado, o BTG também reforça sua operação em solo americano (onde já tem corretora em Miami com 120 funcionários) com mais produtos e objetivo de buscar mais clientes de alta renda, brasileiros e latinos, especialmente. O negócio ainda precisa ser aprovado pelas autoridades regulatórias.
O banco Safra americano, que não tem qualquer relação com o Safra brasileiro (embora as famílias sejam parentes) tem uma carteira de crédito de US$ 275 milhões (R$ 1,4 bilhão) e US$ 404 milhões (R$ 2,1 bilhões) em ativos totais. O valor do negócio não foi revelado. Nos EUA e nas ilhas Cayman, o BTG já tem US$ 20 bilhões (R$ 108,8 bilhões) em ativos de clientes sob gestão.
Para João Frota, analista da Senso Investimentos, o BTG sempre foi um banco que busca diversificação. A mais recente onda de aquisições reforça essa vocação do banco de investimento. A compra do banco MY Safra, diz o analista, mostra a estratégia de reforçar sua operação americana, que ficou importante nos últimos anos.
No mais recente lance do BTG no Brasil, lembra Frota, o banco mostrou que vai aproveitar a expertise no que vem ganhando no mercado imobiliário, comprando todo o Ilha Pura, bairro planejado construído pela Carvalho Hosken na Barra, Zona Oeste do Rio, através da Enforce, empresa do banco especializada na compra de ativos de recuperação mais difícil.
Com a compra, a Enforce vai absorver o passivo bilionário do empreendimento e passar a gerir os ativos.
— O BTG também sempre olha ativos em “situações especiais”. Por exemplo, o banco adquiriu em junho passado a massa falida do Banco Nacional, assim como fez com o Bamerindus em 2014 e com Banco Econômico em 2022, com benefícios tributários — explica o analista.