Após ataque do Irã, Brasil monitora preço internacional do petróleo
O Ministério de Minas e Energia acionou o sinal de alerta, nesta segunda-feira (15), após a ofensiva iraniana contra Israel. O chefe da pasta, Alexandre Silveira, criou um grupo de trabalho para monitorar a oscilação do petróleo bruto (Brent), referência do mercado internacional.
Embora o preço da commodity no mercado internacional tenha encerrado o dia estável em US$ 90,41, a preocupação do governo é repetir o que ocorreu após a invasão russa da Ucrânia, quando o barril do petróleo saltou para US$ 120, aumentando o preço dos combustíveis e pressionando a inflação. Para Silveira, ainda não há sinais claros de uma escalada mais grave do conflito, mas é preciso se preparar. “Como os conflitos, lá, ainda estão na fase de ensaio, e não temos ainda elementos concretos que nos apontam o caminho desastroso de conflitos mais vigorosos, eu quero crer que os grandes líderes mundiais terão responsabilidade com o planeta”, comentou Silveira.
A posição do ministro reflete a reação do mercado internacional. No fim de semana, analistas chegaram a cogitar preços acima de US$ 100 na segunda. A reação foi atribuída a declarações do Irã sinalizando que não haverá novos ataques, e à falta de uma retaliação por Israel — ao menos por enquanto. Importante ressaltar que o valor disparou na expectativa do ataque iraniano, chegando a US$ 92,18 na semana passada. Há um mês, o barril era comercializado a US$ 84,75.
Questionado, Silveira evitou especular sobre o tamanho do impacto, e destacou que a mudança na política de paridade internacional dos preços pode suavizar o aumento de preços no Brasil. Ele admitiu, porém, possíveis prejuízos. “Se assim se der, o Brasil, como todos os países do mundo, tem e sofre impactos quando há restrição de produção ou comercialização de petróleo”, explicou. A reportagem também procurou a Petrobras, que não se manifestou até o fechamento da edição.
“É importante que a gente esteja atento. O ministério está debruçado. Hoje (ontem) mesmo fiz uma reunião com a Secretaria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis a fim de que a gente possa, em um grupo que acabei de criar, fazer um monitoramento permanente da oscilação do preço do Brent, e que a gente possa agir de pronto com os mecanismos que temos e que respeitem a governança do setor privado e da própria Petrobras”, afirmou ainda Silveira.
Sem reservas
Apesar do impacto tímido da ofensiva no preço do petróleo, especialistas alertam que o cenário será muito diferente em caso de guerra. O advogado e economista Alessandro Azzoni, conselheiro deliberativo da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), destaca a pressão de grandes potências, como Estados Unidos, Reino Unido e França, para que Israel não responda ao ataque.
“Se Israel revidar e o Irã entrar no conflito de forma agressiva, aí sim teremos um aumento no preço. Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque, temos vários grandes produtores de petróleo que ficarão com a produção praticamente represada. O estreito de Ormuz escoa 30% de todo o consumo do mundo”, avaliou Azzoni ao Correio. Ele vê, porém, poucas opções para tentar conter os danos. “É muito difícil tentar prevenir, porque são fatores externos. Não temos ainda uma produção de combustível para isso, como os Estados Unidos têm as reservas no Texas. Eles podem ser menos afetados do que nós.”
O analista de Política Internacional da BMJ Consultores Associados Vito Villar também avalia que os impactos podem ser significativos, com a falta de reservas e de autossuficiência. “Políticas como a redução do ICMS estadual e intervenções diretas na política de preços da Petrobras são estratégias frequentemente utilizadas pelos governantes para minimizar o impacto inflacionário na economia brasileira”, pontuou.
Alta do dólar
O Câmbio, por sua vez, teve forte impacto da crise iminente entre os dois países do Oriente Médio. O dólar atingiu o maior valor desde março de 2023, aos R$ 5,18, avançando 1,21%. Enquanto isso, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa/B3) fechou o pregão de ontem em queda de 0,5%, aos 125.333 pontos, com as ações da Petrobras (PETR4) subindo 0,95%.
Apesar de ter ficado estável ontem, há um receio de possível embargo na venda de petróleo ao ocidente, por parte do Irã e de outros países da região que são fortes produtores da commodity.
“Com uma possível escalada do conflito entre Israel e Irã, pode-se aguçar um ‘barril de pólvora’. Nesse sentido, o petróleo pode ser usado como uma arma geopolítica, isso depende da correlação de forças nessa conjuntura, e de como os atores diretos e indiretos irão atuar nesse conflito”, avalia o economista da APAS, Felipe Queiroz.
Etanol
Fatores internos levam o consumidor brasileiro a se preocupar não só com o preço da gasolina, mas também com o do etanol. No Distrito Federal, o litro, que estava em torno de R$ 3,90, subiu ontem para até R$ 4,20. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Paulo Tavares, a situação pode piorar, já que está previsto aumento para ainda hoje, reflexo da alta nas distribuidoras.”Na semana passada, houve um reajuste no etanol de R$ 0,40. Os revendedores estão repassando o valor agora”, afirmou Tavares, ao explicar que as elevações já ocorrem há três semanas seguidas.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do etanol hidratado subiu em 18 Estados e no DF, na semana passada.
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Receba notícias no WhatsApp
Receba notícias no Telegram